06 setembro, 2011

O Vazio da Saúde

Penso que ser uma pessoa saudável ou ter saúde é uma questão muito além da definição simplista da OMS a esse respeito. Por que a saúde é quase como um caráter fundamental da existência humana e não somente um completo estado de ser ou estar. Como podemos estar num completo estado de bem-estar se a incompletude é o que caracteriza a existência humana, o vazio diria Schopenhauer.

Segundo os textos e os comentários dos colegas, percebemos que a saúde é muito além do físico-orgânico ou psicológico-social. Por que embora fossem peças nessa engrenagem, elas não são absolutas. Nesse nosso sistema capitalista de vida que prega a velocidade e a competição em detrimento do tempo e reflexão, vimos a evolução de um conjunto de males que nos afetam só de ouvirmos falar neles. Isso gera uma resistência, a resistência dos hábitos saudáveis, mas até eles foram banalizados. Hoje ser saudável é fazer academia duas vezes por semana, fazer yoga, pilates, tomar complementos vitamínicos, ter uma extensa lista de alimentos recomendados por nutricionistas, fazer aromaterapia, musicoterapia, arteterapia, reiki além das psicoterapias, todas elas se for possível para alcançar o ideal ascético do “ser saudável”.

Essa lógica é criada e alimentada constantemente pela mídia e pelo discurso médico que quase provoca o pânico generalizado. E ainda dizemos que os pobres é que são alienados, sem informação adequada para cuidarem de sua própria saúde, recorrendo sempre ao médico do postinho e seus milagrosos remédios. O pobre da vila que não come alface orgânica do Zaffari, que não come o peito de peru ao invés da mortadela gorda, que não faz três seções semanais de psicanálise ou que não desfruta de uma vasta aparelhagem de musculação da academia, esse, não cuida de si.

Penso que como futuro profissional da saúde, preciso me tornar um agente transformador dessa lógica, por que não é possível colocar em um mesmo balaio os modos de saúde do rico do bairro nobre e do pobre da periferia. Não entendam isso como exclusão ou estratificação do social, mas sim uma avaliação dos diferentes modos de vida, as diferentes noções de existência.

Avaliando a história de Nietzsche, não me proponho expurgar o sofrimento, mas trazê-lo para perto, elaborá-lo para que eu possa crescer com minhas próprias dificuldades. Por que penso o sofrimento como uma característica iminente da existência humana que não exclui a saúde, o bem-estar e a felicidade por que se sofre com constantes dores físicas ou mentais. Talvez a resposta seja a harmonia, mas talvez o que se entenda hoje como saúde seja só mais uma utopia. E as utopias como disse Galeano, servem para isso, para que corramos constantemente atrás delas, por que o que penso agora como saúde é criar com o que temos e o que não temos modos de se estar em paz consigo mesmo.

Reflexão sobre Saúde - Psicologia da Saúde








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