12 novembro, 2016

O desenvolvimento econômico e social ocorrido no Brasil na última década é inegável, nunca se teve tão facilitado acesso à educação superior, a créditos e às melhoras na condição de vida do brasileiro médio. Nunca os ricos foram tão ricos, nunca os pobres tiveram tanto acesso, mesmo que parcos na sua radicalidade, a direitos e políticas sociais. Porém, nunca vimos tanto ódio destilado nas ruas, nas redes sociais, na internet, na política institucional, a céu aberto. Explicar de onde vem esse ódio, suas causas e seus efeitos é chover no molhado, ao menos para àqueles que com o mínimo de atenção e crítica aproveitaram todas as informações disponibilizadas de maneira cada vez mais rápida e imediata. Se há 30, 40 ou 50 anos atrás a repressão impedia toda forma de agrupamento e troca de ideias subversivas, hoje, muito em função da internet, podemos nos organizar contra essas práticas dos poderes hegemônicos e fazer frente aos retrocessos e as violências dos governos autoritários pelas vias digitais. Em larga medida o avanço do medo e do ódio também produziu uma massa de assujeitados pelo poder dominante, mônadas isoladas nos seus individualismos completamente idênticas umas a outras, reproduzindo todo tipo de lixo mais degradante e assombroso que alguém pode produzir. Receio em dizer que tais indivíduos são desumanos nas suas práticas, porque o fascismo é, ao meu ver, a expressão mais cruel do humano. Os regimes totalitários nazifascistas eram operados por humanos, por homens reais sob a justificativas de serem superhomens. Já disse em outra oportunidade das potencialidades monstruosas de homens reais capazes de extinguir a diferença representada por outros humanos. Diferenças conceituais entre homens e humanos à parte, o que estamos diante é inegavelmente produção de nossa cultura. Se a cadela do fascismo está sempre no cio, acredito que no Brasil ela está prestes a parir. Não quero ser fatalista ou pessimista, até porque isso me vem como um dado de realidade, ela está aí para quem estiver disposto a ver. Embora seja um diagnóstico ruim do presente, penso que o prognóstico do futuro possa ser melhor. Mesmo com tanto ódio nunca se viu tanta diversidade sendo celebrada, tantas vozes fortes e cantantes gritando por um futuro menos aterrorizante e opressor. Tantos jovens mostrando sua força crítica, sua potência em lutar e aprender cada vez mais. Engana-se aquele que pensa que a história do Brasil é a história do inconformismo popular, a história do adormecimento das vozes revolucionárias. Isto é o que as vozes hegemônicas querem nos fazer crer. Uma breve olhada em nossa história e veremos tantas insubmissões, tantas revoltas contra às violências institucionais. Enfim, já nem sei mais porque comecei esse texto, me deu vontade de escrever aos amigos atentos que têm um pouco dessa insubmissão em seus corações e mentes. Talvez a política seja um pouco de paixão, um pouco de enlouquecer diante de uma realidade tão angustiante. Então, fica aqui meu desabafo compartilhado com todos àqueles que têm fome e sede de justiça, que não estão na saudade e constroem a manhã desejada.

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