25 outubro, 2015

ENEM

Meu último Enem foi em 2008, 19 anos e já um protocomunista nietzschiano, apesar das duas coisas soarem antagônicas atualmente. Queria estudar História e me preparava para o vestibular na federal, que não passei por motivos óbvios. Fora o último Enem no modelo antigo, perguntas e respostas tradicionais e uma redação que se não me engano tinha alguma coisa a ver com crise econômica ou ambiental, ao menos foi isso que penso ter escrito. 

Na época, tornara-se um hábito meu dormir nas provas do Enem, já era a terceira. Hoje vejo a gurizada pleiteando uma vaga na Universidade enfrentando o Enem e sinto uma série de sentimentos, mas admiro muito dessa gurizada que corre atrás dos seus objetivos, sonhos acadêmicos/profissionais ou não. Ainda faço meus corre, mas Enem não sei se faço de novo, apenas me lembro da música da propaganda na TV, Pra não dizer que não falei das flores do Geraldo Vandré, música que remetia ao passado e à luta política no Brasil. Em 2008, as nossas (as minhas) esperanças estavam num outro momento que o Brasil estava vivendo, um momento onde fazia sentido sentir-se parte do futuro, do novo e que políticas como o Enem e o Prouni eram a cara de um novo Brasil que parecia logo ali. 

Hoje, Simone de Beauvoir causa histeria em alguns tipos que parecem sair dos porões da ditadura que Vandré vivenciou. Vivemos um momento decisivo no Brasil, um momento dialético onde caminhamos num fio de uma navalha cega, mas seguimos. Com crises ou não, seguimos caminhando e cantando e seguindo a canção abaixo de retrocessos. Só espero que estes jovens que fizeram o Enem neste final de semana entrem com um outro espírito nas Universidades, públicas ou privadas. Por isso escrevi esta pequena reflexão, porque parece que abaixo de chuvas, alguma coisa ainda desacomoda, e porque gostaria de ter feito uma prova como esta, onde pensar parece que foi mais importante que repetir fórmulas prontas de um país do passado.

05 agosto, 2015

A mídia e o medo

De Hobbes a Freud, o medo tem parecido ser o grande aglutinador social e civilizatório do homem (entenda-se humanidade) e o mais incrível é como ele é maleável e facilmente manipulável. É muito fácil controlar o medo das pessoas e como é fácil provocar reações amedrontadas, muito mais fácil, imagino eu, do que despertar sentimentos como a solidariedade e o amor. Num mundo onde tudo é monetarizado, consumível, o medo é um produto barato e que vende fácil. Acredito que todos os homens (humanidade, enfatizo) têm medo, o sentimento mais íntimo e mais primitivo segundo algumas teorias, mas o medo nunca foi, na minha percepção, um sentimento nobre e manifesto publicamente. Ninguém tem medo, mas todos somos em algum momento mobilizados por ele. Que força social interessante é o medo, como pode mudar caminhos, como pode provocar rupturas e desavenças, como agora, neste exato momento você que lê este texto está sendo mobilizado, mesmo que inconscientemente, por algum medo. Minha motivação a escrever este brevíssimo texto é o medo, mas não é um medo meu, mas é um medo que constantemente é encucado na minha cabeça que só pessoas mais atentas e olhares mais críticos parecem perceber o quanto isto não é meu! Diariamente somos condicionados por um medo, um medo sem forma definida mas que pela sua forma imprecisa pode tomar qualquer forma que desejar. Atualmente a forma do medo que mais toma conta é a da crise, a terrível e molestadora crise. Hoje mesmo no telejornal de uma emissora muito conhecida dos gaúchos, a crise que diariamente é repetida como um mantra midiático, se fez aparecer novamente. Não sustento de modo algum que não há crise, que não deve haver medo, mas pela indefinição da crise, pela forma maleável do medo, eu simplesmente tenho medo do sei lá o quê! E o pior, ninguém me diz claramente o que eu devo temer, que crise é esta, o que devo fazer para superá-la, o que devo fazer para resistir! Mas quem falou em RESISTIR? Não é para resistir, a palavra escondida por trás da crise ou do medo é resignação, todos sabemos que um bom cidadão de bem é uma pessoa medrosa e resignada. Enquanto isso, temos os nossos direitos solapados em nome de algo tão deFORMADO, tão mal inFORMADO, porque os arautos da liberdade nos prometem, todos os dias, um mundo sem medo.

Elton Borba
05/08/2015

17 maio, 2015

17/05/2015

A espuma.

A espuma, a palavra, a letra,
um pouco do espaço intersubjetivo dos dedos,
As maçãs, o caule, a fruta,
tempo fascinado pelo acaso.

O corpo é lento, a paisagem é que se move
como montanhas ao vento.

O excesso, a fadiga, o outro,
cansaço das pernas na espera do tempo.
Cães, frutas, neblina,
casca oca da foto, pão dormido no outro dia.

15 março, 2015

Golpistas não passarão, não desta vez!

Assisto atônito as notícias veiculadas na mídia, tv/internet sobre o dia de hoje e é a primeira vez que sinto medo. A história se repete, é visível as comparações com a história. Me remetem diretamente às marchas do partido nazista nas avenidas de Berlim, me remetem à tensão que derrubou Jango, sinto cheiro de conservadorismo e autoritarismo na cores da bandeira. Minha geração não viveu a escuridão da ditadura militar, mas temo que viva uma reedição. Quando vejo faixas com suásticas, pedidos de intervenção militar e palavras violentas nos cartazes, sinto cheiro do mais podre travestido de manifestação pela democracia. Não havia democracia no terceiro Reich, não existiu democracia durante a ditadura militar. A história fala de campos de concentração, de perseguições e torturas, a história nos mostrou caminhos que não devemos seguir e golpistas não passarão sem resistência. No Brasil é assim, a elite branca só se manifesta quando se sente ameaçada, daí cria seus bodes expiatórios. Desta vez não será assim, a verdadeira voz das ruas amordaçada pelos grilhões do clientelismo político será ouvida em toda sua potência.

01 março, 2015

Das amizades

Das amizades

De algum recôndito canto do espaço, do espaço entre os corpos, espaço entre a linguagem reside; Sujeito igual no mundo não há, no sujeito mundo igual não há; O olhar atravessa por entre as frestas, da fenda do afeto no meio do nada; Seja sonho ou seja paisagem, nada no meio fez-se a pousada; Sereno da noite na noite serena; De rima distante na minha passada; No canto recôndito amigo do meio, linguagem de frestas, afeto do nada.

01 de março de 2015