Quanto mais rígidos os limites, mais forte é o impacto de uma força contrária. Porém, quanto mais esfumaçados são esses limites, maior o estrago para recompor as mesmas formas após o impacto. Muito se diz sobre resiliência e talvez pouco se entenda o sentido que está por trás dessa ideia. Sendo a resiliência a propriedade de um corpo retomar a mesma forma após o trauma, pode-se dizer que a agressão a esse limite só o faz tomar a mesma forma após o episódio. Isto é, a rigidez dos seus limites faz com que a sua forma seja recuperada mesmo após um impacto, porque a identidade desses limites se vê, de certa forma, resguardada das forças desses impactos. Contudo, quando se pensa na porosidade desses limites, quando se pensa na maleabilidade de sua indeterminação, é possível supor que o impacto sempre provoca uma nova forma, porque a forma anterior não era, por assim dizer, uma ordem unívoca. Isto é, seus limites não compunham uma totalidade que engolfasse os impactos como recuperação de si mesmo, pois não é possível rememorar as suas formas anteriores, senão partir para a formação de outras formas por vir. Mas aqui a ideia não é a falta de formas que excluem uma certa consistência, mas diz respeito a quebra e a remontagem dessas formas conforme a rigidez dos seus limites. Bom, talvez minha percepção esteja enganada e seja isso tudo o contrário conforme a física. Mas o meu ponto surge quando me deparo com a dificuldade, num exercício de "problematização", "desconstrução", de remontar outras formas a partir dos impactos da critica a essas estruturas enrijecidas. Isto é, - e aqui eu não estou usando nenhum conceito foucaultiano ou derridiano mas a ideia de crítica e de desmonte de estruturas conservadoras que costumeiramente ouvimos falar - o problema é de como essas práticas de problematizar e desconstruir atingem o limite contrário de sua capacidade de crítica quando ao problematizar e desconstruir identidades, se aferram ainda mais fortemente a outras identidades contrárias contra-identificadas na tentativa, um pouco superficial, de atingir uma certa radicalidade.
Parece que a tentativa de alcançar uma radicalidade acaba por dar de cara com certo radicalismo autocentrado em sua própria identidade que determina, por oposição, o seu outro antagônico. Quer dizer, aqui a raiz - aquilo de mais profundo e basilar que expõe a fundação dessas formas, isto é, aquilo que sustenta desde a base o que engendra essas formas, se torna por um simples jogo de oposição, o reflexo negativo daquilo que sustenta a sua própria existência. Talvez aqui a crítica latente seja a uma concepção de dialética, mas não foi essa a intenção no início disso, embora haja uma dialética operando quando se delimita esses antagonismos como formas de autopreservação das identidades. Opor-se seria aqui identificar-se com o seu contrário na necessidade de afirmar a sua própria existência. Quando transportamos esse pensamento para a clínica, o que temos é a ideia de uma existência que se torna codependente de outra para a sua manutenção.
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