31 julho, 2017

31 de julho de 2017

Quanto mais rígidos os limites, mais forte é o impacto de uma força contrária. Porém, quanto mais esfumaçados são esses limites, maior o estrago para recompor as mesmas formas após o impacto. Muito se diz sobre resiliência e talvez pouco se entenda o sentido que está por trás dessa ideia. Sendo a resiliência a propriedade de um corpo retomar a mesma forma após o trauma, pode-se dizer que a agressão a esse limite só o faz tomar a mesma forma após o episódio. Isto é, a rigidez dos seus limites faz com que a sua forma seja recuperada mesmo após um impacto, porque a identidade desses limites se vê, de certa forma, resguardada das forças desses impactos. Contudo, quando se pensa na porosidade desses limites, quando se pensa na maleabilidade de sua indeterminação, é possível supor que o impacto sempre provoca uma nova forma, porque a forma anterior não era, por assim dizer, uma ordem unívoca. Isto é, seus limites não compunham uma totalidade que engolfasse os impactos como recuperação de si mesmo, pois não é possível rememorar as suas formas anteriores, senão partir para a formação de outras formas por vir. Mas aqui a ideia não é a falta de formas que excluem uma certa consistência, mas diz respeito a quebra e a remontagem dessas formas conforme a rigidez dos seus limites. Bom, talvez minha percepção esteja enganada e seja isso tudo o contrário conforme a física. Mas o meu ponto surge quando me deparo com a dificuldade, num exercício de "problematização", "desconstrução", de remontar outras formas a partir dos impactos da critica a essas estruturas enrijecidas. Isto é, - e aqui eu não estou usando nenhum conceito foucaultiano ou derridiano mas a ideia de crítica e de desmonte de estruturas conservadoras que costumeiramente ouvimos falar - o problema é de como essas práticas de problematizar e desconstruir atingem o limite contrário de sua capacidade de crítica quando ao problematizar e desconstruir identidades, se aferram ainda mais fortemente a outras identidades contrárias contra-identificadas na tentativa, um pouco superficial, de atingir uma certa radicalidade.
Parece que a tentativa de alcançar uma radicalidade acaba por dar de cara com certo radicalismo autocentrado em sua própria identidade que determina, por oposição, o seu outro antagônico. Quer dizer, aqui a raiz - aquilo de mais profundo e basilar que expõe a fundação dessas formas, isto é, aquilo que sustenta desde a base o que engendra essas formas, se torna por um simples jogo de oposição, o reflexo negativo daquilo que sustenta a sua própria existência. Talvez aqui a crítica latente seja a uma concepção de dialética, mas não foi essa a intenção no início disso, embora haja uma dialética operando quando se delimita esses antagonismos como formas de autopreservação das identidades. Opor-se seria aqui identificar-se com o seu contrário na necessidade de afirmar a sua própria existência. Quando transportamos esse pensamento para a clínica, o que temos é a ideia de uma existência que se torna codependente de outra para a sua manutenção.

30 julho, 2017

30 de julho de 2017

O dia que eu ver uma galera de esquerda com um fuzil nas costas, daí que eu vou dizer que se lacrou alguma coisa. Eu costumo brincar que tanto se dizia que o fascismo não passaria que os fascistas passaram por cima com tanquea ignorando qualquer resistência. Tenho feito muito pouco ativismo nas redes sociais, muito por estar cansado dos discursos. Está tudo meio merda e eu vou ser só mais um incongruente que não toca uma pedra na cara da repressão. Enfim, uma vez eu vi uma pessoa dizendo, "pena que eu não estou aí, porque se tivesse fazia e acontecia". Mas tenho as minhas dúvidas se a pessoa em questão faria alguma coisa mesmo ou só falava isso do conforto de estar longe demais para tal atitude. O negócio é que estão cagando e mijando na cabeça de todo mundo e algumas pessoas aqui preocupadas com a ditadura do Maduro. Se a direita se organizou para dar um golpe aqui e retomar o poder dos governos bolivarianos, por que isso seria diferente na Venezuela? Onde o Chavismo enfrenta essa mesma resistência há mais de década. Isso me faz lembrar de um documentário sobre o PCB e a ruptura provocada por Marighella, onde era lembrado que este resolveu tomar uma atitude mais radical porque estava cansado das constantes discussões e debates sobre o golpe. Como já disseram alguma vez, é importante conspirar, mas o problema é que essas conspirações estão provocando cada vez mais desacordos, desencontros e por causa de quê? Egos, egos muito grandes, egos do tamanho do Maracanã e que fazem todos surdos e sedentos por poder. E nem digo grandes poderes, falo de pequenos e minúsculos poderes, como o poder de dormir à noite com o ressentimento saciado. Um bando de ressentidos isso sim, esquerda ressentida. Olha lá a ditadura do Maduro, que ataque aos direitos humanos, diria alguns militantes fervorosos enquanto os tanques dos fascistas esmagam os seus próprios ossos do lado de cá30. Tem uma cena muito boa num filme onde a moça coloca uma flor na ponta do fuzil e o soldado dispara, provavelmente matando-a. É isso que é o fascismo, nada de flor e marijuana, é tiro, porrada e bomba. Mas vamos preservar os DCEs, as violas e Caetano, talvez assim a revolução dos povos aconteça desde as periferias. Alguém disse, a esquerda saiu das vilas e as igrejas evangélicas assumiram. Totalmente verdade, aqui mesmo no meu bairro tem mais igreja que farmácia e talvez mais que boca de fumo. Agora o Deus é outro e tem gente ainda tentando matar o pai primitivo. Porém, não querem muito dividir esse poder, esse projeto de poder, porque ninguém mais o merece tão bem assim, e assim os tanques desfilam numa parada de niilismo e sexo anal. Mas não me deem bola, como disse, é só mais um incongruente com medo de fuzil.