Dizer que um partido político precisa fazer a sua autocrítica parece algo coerente de se dizer politicamente, principalmente se nós nos supomos sujeitos capazes de auto-análise. Mas será que um partido, entendido como uma instituição auto-regulada, é capaz de fazer este movimento de crítica interna de si mesmo? Quando falamos em autocrítica, no sentido individual, supomos que o sujeito em questão é capaz de questionar suas condutas, avaliar seus pensamentos, refletir sobre suas atitudes e planejar, conscientemente, estratégias de mudanças daquilo que não está de acordo ou que causa algum sofrimento pra si ou para o outro. Mas quando falamos de partidos políticos, o que pensamos quando levantamos esse argumento da autocrítica? E o que desejamos que, aquele partido consciente de seus problemas, faça enquanto um movimento de autocrítica? Levanto esse ponto por uma critica apenas, que é a de que um movimento de autocrítica, de auto-análise, de reavaliação de suas decisões é algo simples e corriqueiro que tanto pessoas quanto instituições fazem constantemente. Se isso fosse algo tão corriqueiro, podíamos dispensar psicólogos, psicoterapeutas, psicanalistas, porque esse processo seria inerente e, por assim dizer, auto-gestionado pela pessoa. Talvez aqui eu não esteja levando em conta que aqueles que pedem a autocrítica de partidos levam em consideração a dificuldade inerente de tal empreitada, tanto no aspecto individual quanto no institucional.
Mas, na minha opinião (vejam bem, é uma opinião, com alguma reflexão, mas mesmo assim tão superficial quanto uma opinião leiga), aqueles que pedem autocrítica o fazem por um motivo moral, por um movimento de, ao exigir a autocrítica, o indivíduo ou partido se moralize. Isto é, que reveja seus problemas, suas atitudes, suas deficiências e busque melhorá-las. Logo, aquele que pede a autocrítica de algum partido político, considera a moral algo importante para o jogo político institucional e deseja que, ao menos em tese, mesmo os seus adversários ou simpatizantes levem isso em consideração como estratégia de atuação política. Embora eu acredite que aspectos ético-morais não sejam despregados da atuação política como um todo, penso que o ponto levantado sobre a necessidade de um partido fazer a sua autocrítica deposita demais nesses partidos algo - que por um determinado ponto de vista atual - pelo qual esses nem se abalam. Quer dizer, temos alguns exemplos bem divulgados de problemas morais na política brasileira que não têm abalado, ao menos estrategicamente, partidos ou governos. No caso do governo federal, parece que a legitimidade moral dos seus membros é algo acessório e até invertido para o caso de alguma alocação de cargo de ministro.