Faz tempo que não escrevo um poema, um
poeminha que seja
E não por falta de desejo, por falta da angústia do dizer,
Mas porque me tiraram alguma coisa,
me tiraram meu pouco pedaço de carne,
meu pouco pedaço de corpo
e vivo assim descorporificado,
desfragmentado.
Vivo assim meus dias vagando entre o que
fui e o que não sou
E não tem dia sequer que não pense no
tempo das almas,
No tempo latente entre o presente e o
futuro de uma emergência insólita.
Não há dia que eu não sonhe com o
abismo, com o inconsciente abismo de nós mesmos.
E quão profundo é o abismo sobre os
céus numa redenção miraculosa de tédio e fumaça?
Só a poesia, um pouco sem graça, congela
no papel a angústia do poeta.
Antes fosse uma natureza calma e
promíscua que regesse as leis da descorporificação,
Mas é o retorno, é o abalo das horas insólitas que fazem do homem semente e relógio.
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