13 fevereiro, 2017

13 de fevereiro de 2017

Cada vez mais eu tenho me aproximado da percepção de que o Facebook é a terra (bem concreta em até certa medida) das falsas polêmicas, das falsas problematizações, das falsas desconstruções, dos falsos essencialismos e até dos falsos simulacros. Pois, explico, a brevidade dos pontos críticos levantados não permite que tais temas polêmicos sejam de fato esgotados na sua dimensão de polêmica e passem a ser pensados dentro de uma determinada estrutura de reflexão, de crítica, de análise que se dê pelo menos óbvio, mas também, pelo mais descaradamente simples e aparente. E a questão aqui não é a da informação ou do conhecimento (de quem tem ou não tem essas coisas), mas a da desconfiança e do distanciamento em relação ao problema. Um mecanismo muito comum do fb é a convocação para um rápido posicionamento, para uma rápida opinião, daí que todo mundo se sente impelido a fazer um julgamento das manchetes, dos enunciados pequenos, dos tweets. Tipo, como quando aparece um post sobre o uso de anticonvulsivantes no tratamento da bipolaridade. Logo aparecem os especialistas que detém o conhecimento sobre o assunto e dissertam sobre ele, mas sempre com um background de opinião, fora o aspecto moral de seus discursos; e também aparecem aqueles leigos dispostos a uma boa opinião, os opiniáticos de plantão. Enfim, esse exemplo é fictício, mas a questão é que as polêmicas de facebook ficam por aí mesmo, ficam na dimensão de polêmicas como se fossem problemas, mas não são. Quer dizer, são, mas também não são, por que são problemas que surges pela própria polêmica em si, em função dela e sequer são discutidos fora disso. Por isso é cada vez mais difícil discutir no facebook, a terra dos falsos problemas, dos falsos dilemas.
(Não disse em nenhum momento que existem problemas e dilemas verdadeiros)

11 fevereiro, 2017

Poema de sábado, 11 de fevereiro de 2017

Faz tempo que não escrevo um poema, um poeminha que seja
E não por falta de desejo, por falta da angústia do dizer,
Mas porque me tiraram alguma coisa,
me tiraram meu pouco pedaço de carne, meu pouco pedaço de corpo
e vivo assim descorporificado, desfragmentado.

Vivo assim meus dias vagando entre o que fui e o que não sou
E não tem dia sequer que não pense no tempo das almas,
No tempo latente entre o presente e o futuro de uma emergência insólita.

Não há dia que eu não sonhe com o abismo, com o inconsciente abismo de nós mesmos.
E quão profundo é o abismo sobre os céus numa redenção miraculosa de tédio e fumaça?

Só a poesia, um pouco sem graça, congela no papel a angústia do poeta.
Antes fosse uma natureza calma e promíscua que regesse as leis da descorporificação,
Mas é o retorno, é o abalo das horas insólitas que fazem do homem semente e relógio.

02 fevereiro, 2017

Deus, uma dúvida

Algumas pessoas pensam que sou ateu, talvez por causa da filosofia, do comunismo ou de Nietzsche, não sei. Só sei que não sou, não sou ateu. Mas também não sou religioso, o que é bastante diferente na minha opinião. Penso que as religiões são invenções humanas, discursos humanos históricos e culturalmente localizáveis com suas particulares tramas de sentidos. Algumas destas tramas não fazem nenhum sentido atualmente para a minha existência, mas não quer dizer que não devo respeitá-las na singularidade e na diferença que estas constituem. Talvez por ter tido uma formação religiosa assentada no sincretismo de matrizes religiosas diversas, pude ver um pouco delas com certa exterioridade, certo olhar crítico que me fez distanciar, mas não execrá-las como muitos o fazem. Nietzsche diz que a nossa crença na ciência ainda é uma crença tal como a da metafísica religiosa. Seja qual for a ciência, o culto delas é quase um culto religioso com seus abades e tudo mais. Apenas troca-se o conceito de Deus pelo Deus conceito e ficamos por aí mesmo. Enfim, não foi por isso que comecei esse texto e nem tenho pernas para desenvolver mais sobre isso. O que eu quis fazer mesmo é um tipo de esclarecimento público. Mas também não me perguntem pelo conceito ou ideia que tenho de Deus, ainda não sei, é sempre uma dúvida, uma dúvida não no sentido cartesiano do termo, mas uma dúvida tão somente.