27 outubro, 2014

Texto publicado inicialmente no Facebook, mas que posto agora aqui.

No meio da madrugada, quando não se ouve nada além de cães e veículos ao longe, um despertar sem se estar dormindo, um cochilo sem se estar acordado enche a cabeça de fantasias e sonhos. No limite entre o real e o faz de conta, tem coisas que são além de contas para pagar. No limite entre a loucura e a sanidade, é melhor não ver os limites. Quando nascemos ganhamos uma roupa, nesta roupa ganhamos todas as promessas de um novo mundo, com o crescer a roupa aperta, faz marcas na pele, e ao longo da vida trocamos muito de roupa, tanto que até é difícil lembrar da última que serviu. Nenhuma roupa é eterna, mas eternidade boa é aquela que rasga no corpo. Às vezes a alma se rompe, rompe com força e delicadeza e do nada nos percebemos cobertos de uma profunda nudez. Ué, cadê minha roupa? Não há mais roupa, não há mais frio ou vergonha, há apenas um corpo, vestido de noite e luar, vestido de mundo e universo, vestido de tempo e pesar.

Nenhum comentário: