Texto publicado inicialmente no Facebook, mas que posto agora aqui.
No meio da madrugada, quando não se ouve nada além de cães e veículos ao
longe, um despertar sem se estar dormindo, um cochilo sem se estar
acordado enche a cabeça de fantasias e sonhos. No limite entre o real e o
faz de conta, tem coisas que são além de contas para pagar. No limite
entre a loucura e a sanidade, é melhor não ver os limites. Quando
nascemos ganhamos uma roupa, nesta roupa ganhamos todas as promessas de
um novo mundo, com o crescer a roupa aperta, faz marcas na
pele, e ao longo da vida trocamos muito de roupa, tanto que até é
difícil lembrar da última que serviu. Nenhuma roupa é eterna, mas
eternidade boa é aquela que rasga no corpo. Às vezes a alma se rompe,
rompe com força e delicadeza e do nada nos percebemos cobertos de uma
profunda nudez. Ué, cadê minha roupa? Não há mais roupa, não há mais
frio ou vergonha, há apenas um corpo, vestido de noite e luar, vestido
de mundo e universo, vestido de tempo e pesar.