Recentemente um jornalista indiano me questionou, em uma rede social, sobre as características do movimento e das manifestações que ocorreram no Brasil no mês de Junho. Acompanhei as manifestações, tendo participado de um dos dias de protestos, mas foi interessante esta abordagem de uma pessoa de fora, por que este companheiro indiano queria saber como o pretenso movimento revolucionário brasileiro, assim ele o descrevia, podia influenciar, dar um exemplo para os indianos, para que pudessem realizar estes movimentos e manifestações populares também na Índia. Hoje, recebi um nova mensagem deste amigo da Índia e me sinto muito contente de ter colaborado para o trabalho do Jeevesh!
Segue o link do artigo escrito por Jeevesh Gupta - Will Índia go samba way!
Somos os filhos da Revolução. Somos burgueses sem religião. Somos o futuro da nação.
26 julho, 2013
02 maio, 2013
Aforismo
Estamos fazendo neste semestre uma disciplina que se chama Seminário de Integração II, onde nos foi proposto fazer uma aforismo pequeno, inspirados no modo de escrita nietzscheana. Bom, este é o meu sobre estes Tempos de internet.
Dos tempos de
internet
Como pode, nos dias atuais,
não se estar conectado nas redes sociais? Como se pode afirmar a existência
humana sem estar no facebook? O perfil no facebook, para aqueles que dedicam
umas horinhas nele, é uma vitrine para a realidade, querer mostrar-se um pouco
aos outros. Mas é também se manter conectado a uma rede virtual de
relacionamentos, que precisa ser afirmada tanto no virtual quanto real.
Mostrar-se é indubitavelmente uma característica das redes sociais na
atualidade, já que a internet comporta espaços múltiplos de informação. No
entanto na internet não há espaços de silêncio, assim como em qualquer outra
mídia social, mas no caso das redes sociais, expressar-se diante das tragédias
ou fofocas, dos acontecimentos globais é quase como um dever compulsório.
“Retuitar”, “cutucar”, “curtir”, “comentar”, termos comuns a todos os
internautas é uma obrigação moral diante de uma informação, o que se vê muito
na necessidade de deixar comentários em todos os espaços visitados. Obviamente a
internet não foi feita para o silêncio, para o se calar diante de um fato, mas
nestes tempos de internet as informações estão ali quando e onde eu preciso, precisar neste caso é um verbo com outro
significado, por que é quando eu tenho interesse, quando eu não tenho nada
melhor pra fazer. A internet é aquela que exerce também o papel de ocupar os
espaços de ócio, por que quando tudo é para o último minuto, o que se precisa é
de mais tempo para se encaixar, bem apertada, mais uma atividade. Talvez nunca antes
se falasse tanto no tempo, nunca antes se precisou tanto dele, nunca se jogou
tanto tempo fora, tanta vida fora. Enquanto isto, eu atualizo o meu face, não posso aparentar inanição.
17 março, 2013
Estágio Básico II
QUANTAS COISAS
ME TOCARAM NA PRÁTICA
Durante o estágio
percebi uma série de mudanças em mim, senti a cada semana uma profunda sensação
de crescimento. Mas com o crescimento, vieram muitas angústias, muita irritação
e cansaço, como uma antena de sensações eu estava absorvendo tudo o que se
passava a minha volta. Por isso que pensando na minha experiência pessoal de
estagiário que passa a encarar um grupo terapêutico, cheguei ao meu problema de
pesquisa.
Esse primeiro desafio
da prática do fazer psicologia alterou a minha percepção, porque as muitas
coisas que me atravessaram durante esse tempo me mudaram não só como estudante,
mas como pessoa cheia de conflitos que aprende com seus pacientes os ganhos da
convivência. Para Jorge Larrosa (2004) uma experiência é o que nos passa, ou o
que nos acontece, ou o que nos toca. Não o que passa ou o que acontece, ou o
que toca, mas o que nos passa, o que nos acontece ou nos toca. A minha primeira
experiência de estagiário de
psicologia em grupos terapêuticos pôde sim, ser considerada uma experiência,
por que muitas coisas me tocaram nessa prática. Por isso considero a experiência como parte fundamental para
a aprendizagem dos jovens terapeutas. Por que esse despertar do estudante de
psicologia que se depara com a prática clínica chamou a minha atenção pelo fato
de o estudante notar que a principal mudança no seu trabalho está em si mesmo.
Essa experiência no
estágio me afetou, tanto quanto a minha presença afetou os pacientes. Um jovem
estagiário que é colocado em um grupo completamente angustiante e desafiador vivência
com os pacientes seus momentos de descontração, tristeza e reflexão, mas também
vivencia uma ampla gama de sentimentos com relação aos pacientes, mexendo também
com os seus próprios processos internos. Então vejo esse meu contado com a
prática como sendo o de um sujeito da experiência,
um sujeito ex-posto como enfatiza Larrosa (2004), por que o mais importante
durante o período de estágio “não é nem a posição (nossa maneira de pôr-nos),
nem a o-posição (nossa maneira de nos opor-nos), nem a pro-posição (nossa
maneira de propor-nos), mas a exposição, nossa maneira de expor-nos, com tudo o
que isso tem de vulnerabilidade e de risco.” (LARROSA, 2004, p.161)
O Grupo mexe com as
pessoas que o frequentam, porque não seria diferente com o estagiário? O
objetivo do meu trabalho é fazer um relato da minha experiência nesse Grupo de Convivência, como os sentimentos que
circulavam no Grupo afetaram a minha subjetividade, como se deu o meu encontro
com essas sensações, que aprendizados e percepções eu tirei dessa experiência.
Essa experiência
pessoal de grupo é como diz Yalom (2006) amplamente aceita como uma parte
integral da formação e do desenvolvimento profissional continuado. Porque “essa
experiência pode proporcionar muitos tipos de aprendizado que não estão
disponíveis em outras áreas. Pode-se aprender em um nível emocional aquilo que
se havia aprendido apenas intelectualmente. Experimenta-se o poder do grupo – poder
de ferir e poder de curar. [...] Aprende-se a compreender as próprias
capacidades e fraquezas.” (YALOM, 2006, p.428)
Essa maneira de expor-nos
ao que nos pode afetar é rica de significados e aprendizagens, faz com que os
sentimentos nos cheguem sem que forçássemos. Desse modo é impossível negá-los
por que segundo Yalom (2006) eles são tão úteis para o terapeuta como um
microscópio ou um mapeamento de DNA para um microbiologista. É o material com
que iremos trabalhar e aprender a partir de então, é um canal com o qual podemos
nos comunicar intersubjetivamente. E para Zimerman (2000) uma das funções mais
importantes do grupoterapeuta é a capacidade de acolher um intenso, variado e
cruzado jogo de identificações projetivas que [...] recaem mais
concentradamente sobre a sua pessoa, mais exatamente dentro da sua cabeça.
Porém Yalom (2006) alerta “que isso
não significa que os terapeutas devam entender seus sentimentos, preparando um
buque interpretativo. A simples expressão de sentimentos muitas vezes já é
suficiente para ajudar um paciente a avançar”. Penso que avancei também, não me
colocando no papel de paciente, por que a cobrança institucional para que eu me
comportasse como terapeuta me podava um pouco, mas avancei na minha maneira de
pensar, de resolver a complexidade dos processos que se apresentavam.
A metodologia mais
adequada para orientar meu trabalho seria uma pesquisa-intervenção, porque um sujeito
da experiência não pode estar distante das relações do local em que está
inserido, assim como também um sujeito implicado na instituição. É importante
ressaltar a “posição que o pesquisador ocupa nos jogos de poder,
fundamentalmente sua implicação com a instituição [...], e sua abertura para
criar zonas de indagação”. (PAULON; ROMAGNOLI, 2010, p.96)
Antes de distinguir um
objeto de estudo específico e delimitado, preciso entender e compreender os
fenômenos verificados em mim. Os resultados a serem obtidos não são da ordem do
pragmatismo cientificista, nem a sua coleta resultará de um objeto identificado
a priori. Porque meus diários e
relatos de vivência durante o período de estágio serão os materiais necessários
para construir uma cartografia dessa experiência.
Para Paulon e Romagnoli (2010) essa busca se faz em torno de movimentos, de
processos complexos e situações cotidianas.
No Grupo fui obrigado a
aprender da maneira mais angustiante que o importante não é acertar o tempo
todo e que aquelas pessoas depositam muita confiança na nossa figura, confiança
da qual teriam com qualquer outro profissional formado. Também percebi que as
coisas que dissemos por insight fazem muito sentido, ao menos pelo o que a
nossa figura representa. Para encarar um Grupo, qualquer que seja, precisamos
estar em dia com nossas coisas internas, precisamos aprender a lidar com nossos
conflitos para poder lidar com os conflitos dos outros. Porém também é preciso
estar disponível a ver e ouvir o outro, ver o grupo como um todo, mas também
ver suas pequenas partes.
O mais importante de
uma experiência é quando essa lhe provoca
mudanças. Quando faço uma cartografia da minha experiência, faço uma descrição da minha mudança como um conjunto
de aprendizados que ultrapassam a necessidade de conhecimentos acadêmicos e científicos.
O período de estágio é um período onde o aluno deve estar aberto e disponível
para que a aprendizagem aconteça da forma mais natural possível. Encaro essa
vivência “como uma superfície de sensibilidade na qual aquilo que passa afeta
de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns
vestígios, alguns efeitos.” (LARROSA, 2004, p.160)
Nessa
ciranda da vida, nesse eterno mutável
Somos
um pouquinho de sal e suor,
Somos
um montão assim bem grande de afeto.
4. REFERÊNCIAS
YALOM, Irvin D. Psicoterapia
de grupo: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2006.
LARROSA, Jorge. Linguagem
e educação depois de Babel; traduzido por Cynthia Farina. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artmed, 2000.
PAULON,
Simone M; ROMAGNOLI, Roberta C. Pesquisa-intervenção
e cartografia: melindres e meandros metodológicos. Estudos e Pesquisa em
Psicologia, UERJ, RJ, ANO 10, n.1, p.85-102, 1º Quadrimestre de 2010.
Disponível em: http://www.revispsi.uerj.br/v10n1/artigos/pdf/v10n1a07.pdf
Poemas
Dois poemas que escrevi há alguns anos atrás, mandei estes já faz algum tempo para a revista Cult, mas não sei nem se foram publicados, por que não recebi nenhuma resposta deles, então, por que não publicar meu "material inédito" aqui?!
Falar sozinho
Minha esquizofrenia não tem corpo, cor ou cheiro,
Talvez os sapatos que ainda mantenho,
Viva a imagem de quem um dia anseio.
Talvez um dia viesse me visitar.
Minha esquizofrenia talvez fosse triste e solitária
Mas não tem nada de figuras,
Antes fosse imaginária,
Vida própria, vida dura.
Minha esquizofrenia é simples, é muda,
Pouco cega nada surda,
Ouve bem sacudir os prantos,
Ouve tudo, mas não lembram tantos.
Esquisitice amarga que se sente,
Uma falta de entusiasmo.
Nas horas tristes se faz presente,
Mas é alegre no meu descaso.
Veraneio
Beijos como agulhas,
Feridas imaginárias,
Epiderme ensolarada.
Preto no branco,
Fotos desbotadas,
Ave encarcerada.
A brisa do mar,
O cheiro de mato,
Carne chamuscada.
O brilho das estrelas,
O breu do telhado,
Ressaca disfarçada.
Relógio parado,
Horas intermináveis,
Unha mal cortada.
A mesa do silêncio,
Vento na janela,
Comida requentada.
Amigos ocultos,
Pacotes desfeitos,
Flores na calçada.
Tarde monótona,
Palavras vazias,
Camisa engordurada.
Longos abraços,
Lágrimas nos olhos,
Sonhos na estrada.
Poemas escritos por Elton Borba
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