12 junho, 2018

12 de junho de 2018

Se vocês estão comparando a Copa do Mundo FIFA com o prêmio Nobel, comparando os méritos entre os países que os conquistaram. Vocês precisam estudar minimamente um pouco da história do prêmio Nobel e dos brasileiros que já foram indicados a ele. Como tudo no mundo é política e jogo de influências, no prêmio Nobel não seria diferente. É a mesma história de por que o José Sarney é imortal da Academia Brasileira de Letras e o Mario Quintana não. A comparação que vocês fazem é esdrúxula e só afasta as questões dos verdadeiros problemas. Se a Copa é o pão e circo dos brasileiros, vamos comer e brincar até se esbaldar, porque a brincadeira e a festa também são parte da política. O futebol é tão político quanto a história de suas instituições (FIFA e CBF). Parte da esquerda brasileira descobriu como que por acaso que os caminhoneiros são uns bárbaros que não escutam Bossa Nova e Caetano Veloso e agora separam, num outro ataque de elitismo intelectual, o entretenimento proporcionado pelo mundial da vida política. Como se já não fôssemos roubados e achacados sem nem gritar gol. Ainda mais gritando. Se o Brasil é, ou era até 2014, uma potência só no futebol mundial, o problema não é intrínseco ao futebol, ou a qualquer outro desporto coletivo, mas de uma série de outros fatores e atravessamentos históricos e geopolíticos.
Não há conscientização sem educação e isso é sabido, mas assim como Paulo Freire ensinava sobre a importância de um pedagogia da autonomia que reconhecesse os saberes e valores prévios das pessoas, é preciso minimamente entender como pensa e o que deseja o "povo", o cidadão comum para construir a conscientização do seu papel político (e revolucionário) no mundo. A conscientização e o senso crítico não virão com La Casa de papel, ou qualquer série muito que bem intencionada fruto da alta cultura do entretenimento streaming, nem nas sofregas leituras matutinas de um Dostoiévski no café da manhã contemplando o vazio da existência e o sem sentido da vida. Embora uma pesquisa recente tenha relevado que há alguma politização através dos memes, nós bem sabemos que - e eu sei que não mais que uns poucos amigos aqui vão ler esse texto até seu final - certas coisas não ultrapassam a nossa bolha dentro das redes sociais. Então, sem querer ser fiscal de porra nenhuma, mas já sendo, você não está ajudando em nada em construir uma crítica realmente relevante comparando Brasil e Canadá em mundiais de futebol e prêmios Nobel (seja lá de que área do Nobel seja). Os alemães, ingleses e franceses tem também vários prêmios Nobel e também se interessam tanto quanto os brasileiros pelo futebol, mas qual é a verdadeira diferença que temos em relação a eles?