06 agosto, 2017

06 de agosto de 2017

Tudo que eu já fiz foi invencionice e muito dessas coisas já não são tão reais como foram no momento em que as escrevi. Com todo tipo de erro e superficialidade, rever as coisas que já fiz me servem pra me colocar numa saudável posição de ignorante e crítico de mim mesmo. Quando escrevemos nos enchemos de um bom orgulho e narcisismo de quem quer pegar o mundo todo na mão, mas também é bom ver depois quantos dedos faltavam para fazer isso. Tenho notado como meu processo criativo é diferente nas diferentes coisas que faço. De como me deixo tomar por certo impulso criativo meio associativo meio catártico quando escrevo um poema ou uma reflexão. Ou de como faço um esforço muito grande para escrever um material acadêmico, esforço que desconhecia tão intensamente antes de começar a pós-graduação. Por isso as faltas, as incompletudes, os defeitos de quem começa uma coisa nova sempre. Parece que quando escrevo coisas desse tipo sempre escrevo como se fosse a primeira vez, porque nunca sei o que é pra fazer, como começar e pra onde quero ir. Não aprendi os modelos e me esforço pra me encaixar a eles por uma obrigação que por muitas vezes desconheço. E as razões que a motivam também me são desconhecidas, porque adaptar-se vem sempre antes de incomodar-se. E quando se percebe o quanto se está incomodado com alguma coisa, aí que se percebe uma presença que antes se ignorava. É como quando se nota uma pedra no sapato só depois de começar a andar. Sendo que muitas vezes se anda o caminho inteiro com o incomodo da pedra por vergonha de parar no meio do caminho, aos olhos de todo transeunte. Por isso admiro quem tira o calçado e começa a andar de pé no chão. Talvez por isso eu tenha demorado pra aprender a amarrar os sapatos e hoje viva com os nós já dados pelo conforto de só enfiar o pé. E quando se demora pra aprender alguma coisa num tempo que cobra pelos atrasos, se aprende quase como de um jeito próprio uma tarefa comum mas sútil.

04 agosto, 2017

Sujeira, 04 de agosto de 2017

Tudo é sujeira, pó e matracas.
Tudo é lixo, pingentes e brilhantes.
Só resta armadilha, fedor e leite rançoso.
Puritano nem é gente que se preze,
pra começar uma conversa.
Começa com sopro e termina com golpe.
Puritano nem é gente que se limpa direito,
está sempre sujo e fedorento.
Fedor de sangue, sêmen e bruxaria.