Imaginem uma caixa de fósforos, com todos os seus palitos de fósforos. No meio dos palitos retos, há um palito torto. Imaginem uma caixa de palitos de fósforos onde tem um palito torto. É um palito como todos os outros palitos, mas é torto. Ele tem a mesma função dos outros palitos, tem o mesmo fim dos outros palitos, mas é torto. Se riscá-lo ele vai acender tão perfeitamente quanto os outros, não vai quebrar, não vai falhar, mas ele é um palito torto. Numa caixa onde todos os palitos são iguais, existe um palito torto. Claro que nem todos os palitos são iguais, eles têm lá suas pequenas diferenças, suas ínfimas diferenças. Mas olhando assim por cima são todos palitos semelhantes, são todos palitos iguais. Uma pequena diferença aqui, outra ali, mas nenhuma como a do palito torto, que é igual a todos os outros no seu fim de queimar, mas é um palito torto. A questão não é sobre a diferença ou a igualdade entre os palitos. A questão é a caixa. Dentro da caixa o palito torto tem o seu lugar junto aos outros palitos. Dentro da caixa os outros palitos o acolhem, se ajuntam a ele, se arrumam ali com ele, mas ele é um palito torto. De todos os palitos retos existe um que é torto, essa é a fábula. Ele não é um palito rebelde, um palito desviante, ele é apenas um palito torto. Um palito como todos os outros palitos no fim de acender uma chama. Foi um defeito da máquina que produz palitos ou um defeito da madeira de que são feitos os palitos, mas naquela caixa de palitos de fósforos veio um palito torto.