De Hobbes a Freud, o medo tem parecido ser o grande aglutinador social e civilizatório do homem (entenda-se humanidade) e o mais incrível é como ele é maleável e facilmente manipulável. É muito fácil controlar o medo das pessoas e como é fácil provocar reações amedrontadas, muito mais fácil, imagino eu, do que despertar sentimentos como a solidariedade e o amor. Num mundo onde tudo é monetarizado, consumível, o medo é um produto barato e que vende fácil. Acredito que todos os homens (humanidade, enfatizo) têm medo, o sentimento mais íntimo e mais primitivo segundo algumas teorias, mas o medo nunca foi, na minha percepção, um sentimento nobre e manifesto publicamente. Ninguém tem medo, mas todos somos em algum momento mobilizados por ele. Que força social interessante é o medo, como pode mudar caminhos, como pode provocar rupturas e desavenças, como agora, neste exato momento você que lê este texto está sendo mobilizado, mesmo que inconscientemente, por algum medo. Minha motivação a escrever este brevíssimo texto é o medo, mas não é um medo meu, mas é um medo que constantemente é encucado na minha cabeça que só pessoas mais atentas e olhares mais críticos parecem perceber o quanto isto não é meu! Diariamente somos condicionados por um medo, um medo sem forma definida mas que pela sua forma imprecisa pode tomar qualquer forma que desejar. Atualmente a forma do medo que mais toma conta é a da crise, a terrível e molestadora crise. Hoje mesmo no telejornal de uma emissora muito conhecida dos gaúchos, a crise que diariamente é repetida como um mantra midiático, se fez aparecer novamente. Não sustento de modo algum que não há crise, que não deve haver medo, mas pela indefinição da crise, pela forma maleável do medo, eu simplesmente tenho medo do sei lá o quê! E o pior, ninguém me diz claramente o que eu devo temer, que crise é esta, o que devo fazer para superá-la, o que devo fazer para resistir! Mas quem falou em RESISTIR? Não é para resistir, a palavra escondida por trás da crise ou do medo é resignação, todos sabemos que um bom cidadão de bem é uma pessoa medrosa e resignada. Enquanto isso, temos os nossos direitos solapados em nome de algo tão deFORMADO, tão mal inFORMADO, porque os arautos da liberdade nos prometem, todos os dias, um mundo sem medo.
Elton Borba
05/08/2015